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segunda-feira, 16 de agosto de 2010

JORNALISTA DE VÁRZEA DO POÇO HOMENAGEIA CONTERRÂNEOS

OS CEGOS DE PAULO RAPOSA



A luz não se fez para os filhos de Paulo Raposa.
Negou-se. Pior: apagou por dentro. Antes de nascer.
Tum, Ninho, Van e Leo
Um a um lá se vão, tateando o breu
Lambendo a escuridão:
Um rádio de pilha sobre o ombro,
Uma bengala na mão - às vezes nem ela -
O tapete escuro distendido
Ao longo de todo o chão, e uma vida na banguela.


Mas que a visão suprimida não seja a supressão do existir.
Porque Deus quando nega a luz amplia as digitais:
Por elas, os cegos de Paulo Raposa palmilham a cor do mundo
Sentem a real textura da face alheia
- aqui há alguém do bem, aqui do mal -,
Contam e afastam dinheiro falso. Pelas digitais,
E a audição, os filhos de Paulo Raposa vêem. E são.



E danam-se com o GPS da intuição a pleno vapor
Em idas e vindas ziguezagueantes, e desajeitadas,
Em diagonais por ruas, becos e quintais de Várzea a Salvador.
Que Deus acode estas criaturinhas,
Que Deus salva estes irmãos d’enda escuridão?
Como defesa e resistência, os acode como pode
o ácido e ferino Tum, primogênito da privação:
‘Cá dentro comigo carrego candeia, lamparina, lampião
E ninguém lhes pode ver como lhes vejo eu não’
- Era o cego, de toda luminosidade apartado, em vão
Decodificando a luz que o facho das digitais lhe houvera dado.



E a cidade no seu silencioso e miúdo perguntado:
Em que estranho interruptor teria este Paulo Raposa apertado
Para nascer-lhe tanto filho assim de farol apagado?



AUTORIA : Jozailto Lima

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