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sábado, 17 de setembro de 2011

SAÚDE: OBESIDADE INFANTIL


9 fatores que engordam os pequenos

Quilos a mais devem ser uma preocupação desde que a criança chega ao mundo. A ciência aponta como evitar o excesso de peso nos primeiros anos de vida

9 fatores que engordam os pequenos


por Paula Desgualdo


Algumas doenças têm um caráter, digamos, democrático. Não distinguem classe social, cor, nacionalidade ou faixa etária. A obesidade sem dúvida preside esse partido — para o nosso azar, já que ela pode ser o estopim de problemas como diabete, hipertensão, infartos e derrames. Nem mesmo os bebês estão livres desse fantasma. No Brasil, nada menos que 10% das crianças com menos de 5 anos já têm sobrepeso ou são obesas. “É um dado preocupante, porque o risco de elas se tornarem adolescentes e, de quebra, adultos obesos é muito maior”, enfatiza Clóvis Francisco Constantino, presidente da Sociedade de Pediatria de São Paulo.

O futuro que aguarda um bebê rechonchudo além da conta é assombroso. Para ter uma ideia, só na faixa dos 5 aos 9 anos, a obesidade cresceu 300% entre 1989 e 2009 — e, com ela, a incidência de doenças que antes só importunavam gente grande. “Na prática clínica, já é rotina medir a pressão e avaliar os níveis de gordura no sangue de crianças, exames que só costumavam ser pedidos mais tarde”, conta a nutricionista Maria Emilia Suplicy, do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba, no Paraná.

Para nortear o diagnóstico nos pequenos, o Ministério da Saúde adota curvas da Organização Mundial da Saúde (OMS) que levam em conta o sexo, a idade e o índice de massa corporal, calculado com base no peso e na altura. Apesar de não serem as únicas causas, erros na alimentação e a falta de atividades com gasto calórico são apontados como os grandes culpados pelo excesso de peso na criançada.

Dizer que é preciso ter uma dieta equilibrada e uma vida ativa pode soar genérico. Por isso, listamos aqui fatores mais específicos — alguns contornáveis, outros nem sempre — que merecem atenção desde cedo. Evitá-los contribui para uma posteridade mais esbelta e cheia de saúde.

1) Leite materno por menos de seis meses 

A nutricionista Deborah Masquio, do Grupo de estudos da obesidade da universidade Federal de São Paulo, observou que a amamentação exclusiva até os 6 meses, recomendada pela OMS, está relacionada a valores significativamente mais baixos de índice de massa corporal, gordura e circunferência abdominal na adolescência. em um trabalho com 118 jovens, ela notou também que quem mamou durante mais tempo apresenta hoje níveis maiores do hormônio adiponectina. “Ele possui efeitos benéficos contra processos inflamatórios e aumenta a sensibilidade à insulina”, explica. Já a concentração de resistina, hormônio que favorece mecanismos ligados à obesidade, é maior nos que receberam outros alimentos mais cedo.

2) Cesariana 


Crianças que nascem desse tipo de parto apresentam um risco 58% maior de desenvolver obesidade na fase adulta. A constatação vem de um estudo da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Uma possível explicação para o elo está na flora intestinal dos bebês. Ela teria sua composição alterada conforme a maneira que eles vêm ao mundo, caso da cesariana. “A literatura mostra que determinados grupos de bactérias favorecem o acúmulo de peso”, comenta o professor Marco antonio Barbieri, que coordenou a equipe de pesquisa. Em 2008, as cesáreas já representavam 43% dos partos no Brasil — esse número deveria ser de, no máximo, 15%.

3) Mamadeira depois dos 2 anos 


Surgiu da parceria entre a Universidade do Estado de Ohio e a Temple University, nos Estados Unidos, a pesquisa que acende o alerta em relação à mamadeira. Segundo o levantamento, feito com quase 7 mil crianças, usá-la como principal meio de ingestão de líquidos depois dos 2 anos abre caminho para o excesso de peso. Para Clóvis Constantino, presidente da Sociedade de Pediatria de São Paulo, o problema é que o bebê acaba tomando uma quantidade maior de leite ou suco do que no copo, até pela própria diferença de tamanho dos dois utensílios. Sem contar que o consumo de calorias cresce, porque a mamadeira é oferecida como complemento à alimentação sólida.

4) Pouca brincadeira 
Eis um elemento importantíssimo na equação que leva ao acúmulo de gordura: o sedentarismo. O Colégio Americano de Medicina Esportiva provou que quanto mais brinquedos ativos, como bolas, os pequenos possuem — não valem tv, computador nem videogame —, mais eles se movimentam. Parece óbvio, mas muitos adultos não dão a mínima para as brincadeiras ao ar livre, por exemplo. “Da mesma forma que os pais se preocupam com matrículas em cursos de línguas desde cedo, devem estimular a atividade física regular”, afirma o endocrinologista Gregório lima Souza, da Universidade Estadual Paulista, em Botucatu, no interior do estado.

5) Falta de orientação médica 

Não dá para esquecer que a obesidade é uma doença e, como tal, pode ser desencadeada por síndromes, disfunções hormonais e fatores genéticos. “Essas situações correspondem a apenas 5% das ocorrências de excesso de peso em crianças”, afirma Gregório Souza. Mas nem por isso devem ser menosprezadas. Um caso de hipotireoidismo, por exemplo, em que a glândula tireoide funciona em ritmo mais lento e leva ao ganho de dobrinhas, requer orientação e tratamento. A possibilidade de um fator biológico estar por trás da gordura extra sempre deve ser investigada pelo pediatra ou pelo endocrinologista.

6)Olha o aviãozinho! 

Está para nascer uma mãe que nunca tenha exagerado na quantidade de comida que oferece aos filhos — sempre com a melhor das intenções, claro. Os especialistas consultados por SAÚDE insistem, no entanto, na importância de entender que o pequeno não deve comer a mesma quantidade de um adulto. “O melhor é servir menos e, depois, se a criança quiser repetir, acrescentar um pouco mais ao prato, sem exageros”, orienta a nutricionista Julliana Bonato, de São Paulo. Se não houver esse cuidado, corre-se o risco de ela se acostumar a colocar para dentro aquele volume enorme de alimento, sem necessidade.

7) Sistema de recompensa

Segundo Julliana Bonato, contar mentirinhas e fazer promessas na tentativa de convencer a criança a comer não são estratégias eficientes. “Isso pode aumentar a resistência diante de um alimento”, diz. A velha história de raspar o prato para só então atacar aquela sobremesa deliciosa é uma dessas furadas. Ora, se a refeição principal é obrigação e o doce a parte boa, o que é saudável sempre será associado ao chato. Mais: se os pais precisam encorajar seu filho a comer algo, ele entende que aquilo não deve ser lá muito saboroso. O resultado é a tendência a valorizar as guloseimas e deixar o que faz bem de lado.

8) Falta de familiaridade com opções saudáveis
É na infância que o paladar começa a se desenvolver. E o prazer, você há de concordar, é essencial na relação que estabelecemos com os alimentos. Daí que criar gosto por frutas, verduras, legumes e comidas com pouco sal desde pequeno facilita muito as coisas lá na frente. Não que a tarefa seja fácil. Primeiro porque os próprios pais devem servir de exemplo — exigir que o pequeno coma brócolis, enquanto você sempre devora snacks. Em segundo lugar, é preciso persistência. “Cada alimento novo deve ser apresentado dez vezes à criança”, avisa a nutricionista Maria Emilia Suplicy, do hospital Pequeno Príncipe. O segredo é variar no preparo: sirva a cenoura crua, picada, cozida, ralada, amassada...

9) Ambiente estressante

Mudança de casa, nascimento de um irmão ou uma doença são exemplos de situações que deixam a criança sob tensão. Mas há casos em que o relacionamento com os pais já é, por si só, motivo de insegurança. “Para que ela se sinta protegida, equilibre controle e tolerância”, recomenda Harumi Kaihami, psicóloga do ambulatório de Pediatria Social do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Pesquisadores da Universidade do Estado de Ohio, nos Estados Unidos, descobriram que pequenos de 2 anos que se sentem emocionalmente inseguros estão 30% mais sujeitos a desenvolver obesidade. “O estresse pode se manifestar em forma de asma, cefaleia, erupções na pele e aumento de peso”, exemplifica Harumi.

Colheradas a mais

Quem já teve que mandar goela abaixo até o último grão de arroz sem a menor vontade sabe que uma colherada a mais pode ser um suplício quando se está satisfeito. A criançada percebe nitidamente o sinal de saciedade que o organismo envia ao cérebro. Assim, salvo exceções, birras ou recomendações médicas, pense duas vezes antes de forçar a barra para que o pequeno coma mais.

Comer em família 

Cientistas da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, acompanharam 183 mil crianças e adolescentes de 2 a 17 anos e concluíram que dividir a mesa com os pais ajuda a manter uma alimentação mais equilibrada. O grupo que realizava as refeições em família apresentou redução de 12% no sobrepeso, consumo 20% menor de alimentos calóricos e incidência 35% mais baixa de distúrbios alimentares. “Os momentos à mesa também são importantes para a socialização e o diálogo entre as pessoas da casa”, acrescenta a psicóloga Harumi Kaihami.

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